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1 05/03/2015 17:23

Muito interessado no universo hip hop, o diretor e produtor de cinema paulista Ivan 13P, 33 anos, preparava, em 2002, o documentário Favela no Ar, em que entrevistava diversos rappers para falar sobre aquele movimento artístico. Entre os músicos com quem conversou estava Sabotage (1973-2003), que seria assassinado seis meses depois.

Embora houvesse muitos outros nomes importantes no filme, como o DJ KL Jay e os rappers Xis e Dexter, foi Sabotage quem chamou atenção, já que a carreira dele foi bem curta e ficaram poucos registros do rapper na mídia. E, como só uma pequena parte da entrevista foi aproveitada em Favela no Ar, Ivan viu que precisava aproveitar o restante de alguma maneira.

Depois de 12 anos, finalmente estreia Sabotage - O Maestro do Canão, que faz referência à favela onde o rapper vivia, na Zona Sul de São Paulo. Em Salvador, o longa será exibido a partir de hoje, diariamente, às 19h, no Espaço Itaú Glauber Rocha, com entrada gratuita.

O filme tem depoimentos de muitas personalidades do rap, além de músicos ligados a outros gêneros, como os roqueiros Andreas Kisser e João Gordo. Até o ator Ailton Graça (a Xana da novela Império), que tinha uma barraca na mesma feira onde Sabotage trabalhava, lembra dos tempos em que o rapper apresentava suas rimas aos amigos.

Com 28 entrevistados, o filme se concentra quase exclusivamente na vida de Sabotage como artista e pouco fala da sua vida pessoal. O surpreendente assassinato dele, com quatro tiros, em 24 de janeiro de 2003, quase não é abordado no filme, da mesma maneira que sua ligação com o tráfico de drogas antes de entrar para a música, que é apenas citada em rápidas passagens.

Segundo Ivan 13P, esse foi um recorte intencional, já que ele preferiu homenagear o artista e o legado que Sabotage deixou ao hip hop: “Essa escolha não sofreu nenhuma interferência da família do ‘Sabota’. Eu apenas não queria entrar em polêmica, até porque ninguém sabe exatamente qual a verdade sobre o assassinato. E o filme não é investigativo, não tem a pretensão de desvendar o assassinato dele”, diz.

Tráfico

A infância de Sabotage, que era conhecido como Maurinho na comunidade em que morava, foi marcada pelo abandono do pai, que era alcoólatra e catador de material reciclável. O menino se virava para ajudar a família e trabalhava como feirante. Mas, como o próprio Sabotage lembra no filme, começou a servir ao tráfico aos 9 ou 10 anos.

Essa fase, assim como a vida de Sabotage no tráfico, é resumida em uma história em quadrinhos logo no início do filme, que antecede o depoimento de Dalva, viúva do rapper, com quem ele teve dois filhos. A mulher diz que Sabotage passou a servir ao tráfico de drogas depois das dificuldades econômicas que o casal passou, quando ela estava grávida do primeiro filho, Wanderson, hoje conhecido como Sabotinha.

Dalva lembra que usava uma camiseta velha no lugar de fraldas no filho. “Mas a vida melhorou muito (depois que Sabotage entrou para o tráfico) e até iogurte o Wanderson podia tomar. Aí a pessoa começa a ter mais ganância, mesmo que seja na vida errada, né?”, diz Dalva, que, no dia da morte do marido havia acabado de ser deixada por ele num ponto de ônibus, às 5h da manhã.

Hip Hop

O início da carreira profissional de Sabotage aconteceu depois que ele foi apadrinhado por rappers como Rapin’ Hood e Sandrão, do grupo RZO. Em 2000, ele participou de shows desses artistas, que lhe estimularam a gravar seu primeiro álbum, Rap É Compromisso, com apoio dos Racionais MC’s e produção de Ganjaman e RZO. Chorão, do Charlie Brown Jr., foi um dos convidados.

Bem recebido pelo hip hop e pela crítica musical, Sabotage também encontrou outra oportunidade no cinema. Ao lado de Paulo Miklos, ele atuou em O Invasor, filme de Beto Brant, para o qual o rapper fez também uma música.

Em seguida, participou de Carandiru, baseado no livro de Dráuzio Varella. Hector Babenco, diretor do filme, é um dos entrevistados: “Eu acho que o Sabotage era um solitário. Normalmente, as pessoas que têm essa necessidade enorme de serem amadas têm pavor de ficarem sós e têm que estar sempre se relacionando para serem queridos”.

Em Carandiru, Sabotage teve um papel muito importante e atuou praticamente como um consultor da produção, ajudando os atores no uso de trejeitos e falas que fossem parecidos com aqueles dos presos. Como lembra Dalva, o rapper conhecia bem aquele cenário, afinal, o irmão do cantor havia sido detento de Carandiru e era constantemente visitado por Sabotage.

Para Ivan 13P, O Maestro do Canão será bem recebido também por aqueles que não são fãs de Sabotage. “É a história de um cara que sofreu, que teve dificuldades e, de certa forma, deu a volta por cima, mas a vida cobrou aquilo que ele fez. Infelizmente, é uma história comum e muita gente passa por isso”.

Agora, o filme segue para festivais e, depois, entra em circuito comercial. A família de Sabotage, que ainda vive na mesma casa da época em que ele morreu, receberá 45% dos lucros da produção.

 

 

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