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1 28/01/2019 00:21

Na manhã deste domingo (27-01-19) recebi, via WhatsApp, do radialista Paulo Flores Vidal, uma gravação em vídeo mostrando as dificuldades de atracamento no porto turístico (píer) de Paraty, o que considerei um verdadeiro absurdo. As vigas que travam as tábuas do assoalho soltas, buracos no piso e até o vendedor de sucos e salgados se acidentou, perdendo alguns dos seus produtos.

Uma lástima, se considerarmos que Paraty é uma das cidades turísticas de grande fluxo de pessoas, grande parte procedente de São Paulo, principalmente neste fim de semana prolongado pelo Dia da Cidade, sexta-feira 25). É justamente daquele píer que saem as embarcações com turistas para conhecer as ilhas e praias das baias de Paraty e Angra dos Reis, gerando emprego e renda na cidade.

Desde a década de 1970 a cidade de Paraty foi escolhida pelo governo do Estado do Rio de Janeiro para se transformar numa centro eminentemente turístico, sem qualquer tipo de planejamento. Bastava para tanto sediar o maior bloco arquitetônico colonial que, por si só, já venderia pacotes turísticos, em detrimento da população, que ainda residia no centro da cidade.

Grossas e pesadas correntes foram implantadas nas ruas do centro, impedindo o acesso aos veículos, sem dar tempo da implantação de qualquer infraestrutura que resguardasse os habitantes e turistas hospedados no centro histórico. A única voz a se levantar foi a do então presidente da Associação Comercial de Paraty, Benedito José da Cruz (Simão), que condenou, em entrevista no Jornal Nacional, a mudança de cima pra baixo que mudaria a cultura da cidade e prejudicaria seus moradores.

Dito e feito! Os prédios coloniais foram vendidos para os paulistanos e cariocas, e os nativos empurrados para os bairros mais afastados, a exemplo da Mangueira, Ilha das Cobras, Chácara, dentre outros. Hoje, os nativos que vivem da pesca e do turismo são obrigados a fazer das tripas coração para viver e criar os filhos com dignidade, pois não são alvo das prioridades dos constantes governos municipais.

Deveras, o poder enebria, embriaga e os governantes têm olhos abertos para os mais bem-dotados, financeiramente falando, já que são colaboradores em potencial das campanhas eleitorais. Enquanto isso, a população nativa fica à mercê da sorte, aguardando que pequenas migalhas possam ser destinadas ao melhoramento das ruas onde moram e dos equipamentos essenciais ao seu trabalho.

Diferente tratamento recebem os proprietários de imóveis de grande porte, verdadeiras mansões ocupadas nos finais de semana pelo que utilizam Paraty apenas para seu merecido descanso e curtição. Nesses locais todo o cuidado do município é pouco, haja vista a cobrança dos poderosos, ou dos amigos do poder econômico ou político, o que facilita a troca de favores.

Infelizmente, no Brasil, os locais que têm o turismo como principal matriz econômica costumam padecer desses males e todas as ações – ou grande parte delas – são voltadas ao chamado grande turismo, aquele que contempla os mais bem aquinhoados. Assim como Paraty, no Rio de Janeiro, em Ilhéus, no litoral baiano, não é muito diferente e as ações municipais não privilegiam a grande parcela da população.

É certo que Ilhéus, diferentemente de Paraty, não tem o turismo como atividade principal, mas por culpa exclusiva de uma falta de política que empreenda ações nesse sentido, para aproveitar todo o marketing feito pelo itabunense Jorge Amado em seus romances. O mundo inteiro “viaja” nos locais e personagens amadianos, tornando Ilhéus um dos maiores bens de consumo para os seus futuros passeios.

Bastaria uma pequena ajuda dos poderes públicos para tornar Ilhéus uma cidade agradável, facilitando o conhecimento de sua história, rica na arquitetura, na cacauicultura implantada na Mata Atlântica e nos costumes do seu povo. Mas esse encantamento tem limites pelo ar e pelo mar, até que o turista desembarque e passe a conhecer e conviver na antes sonhada cidade.

Ninguém sonha que na antes cidade dos “coronéis do cacau” a realidade atual seja diferente e tenha que ultrapassar as montanhas de sacos (abertos e fechados) de lixo, que incomodam as vistas e o nariz. Também não concebem que por essas plagas a exploração do turismo seja entendida, ao pé da letra, como a exploração ao turista, com todas as artimanhas, do transporte público aos restaurantes.

Mas, afinal, qual a motivação dos políticos instalados no poder para deixar que isso aconteça? Seria falta de pessoas competentes para gerir o município? Claro que não, pois as empresas privadas vão muito bem obrigado. De início, acreditam piamente que o orçamento municipal é uma simples peça de ficção, com erros propositais na elaboração e na execução.

Não conhecem o município como um todo e não fazem questão para reparar esse falha, apostando no desconhecimento da população sobre os seus direitos e o poder político que poderiam exercer na execução das políticas públicas. Em Ilhéus, por exemplo, que poderia conceber e executar uma proposta de desenvolvimento sustentável onde merece, e proporcionar meios para o incremento do comércio indústria e serviços, nada é feito.

E não é feito por questiunculas – coisinhas menores –, nas quais as propostas firmadas entre prefeito, vice-prefeito e as forças coligadas durante a campanha eleitoral se esfacelam nos primeiros meses de governo. Não falo de suposições, mas de fatos, portanto, reais, com o afastamento do vice-prefeito José Nazal do centro do poder, desprezando todo o conhecimento que tem sobre o município.

Ora, se as proposições dessas forças eram antagônicas não deveriam marchar juntas na campanha, elaborar um projeto de governo apenas de mentirinha para enganar a população nos comícios e programas eleitorais. Com isso, perde o município que não se desenvolve, perde a população que não gera riquezas e perde o cidadão, mais uma vez alijado do processo decisório.

Paraty e Ilhéus são apenas dois pequenos exemplos do Brasil.

*Radialista, jornalista e advogado


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